Periferias
No limiar do visível
Da intuição de um corpo que se move através das sombras...
Este projecto foi construído para participar no concurso expositivo no MEF (http://www.mef.pt) com o Tema Periferias (http://periferias.mef.pt). Impresso em papel matte em 127x139cm.
Foi aceite para a exposição que inaugurou hoje (18 Junho) e estará patente até 4 Julho de 2010 no Campo Grande 187.
PERIFERIAS, no limiar do Visível
Título: Da intuição de um corpo que se move através das sombras...
As imagens deste projecto pretendem esconder o detalhe identificativo do particular no objecto fotografado, deixando apenas a distinção das formas para que estes fiquem no limiar do visível.
A periferia colocada aqui na estética da imagem é a fronteira entre o visível e o invisível reduzindo o indivíduo particular ao anonimato.
Tema
Os temas centraram-se em elementos típicos da cidade de Lisboa e na sua relação com o ser humano que a habita. Não se pretendia apresentar um catálogo, ou sequer escolher os considerados mais importantes, mas antes dar um enfoque em alguns elementos simples que pudessem ser apresentados em poucas imagens.
O número de temas que escolhi está intrinsecamente ligado com a forma concebida para a apresentação. Estes foram as linhas de eléctrico, a famosa calçada lisboeta e as passagens de peões. As linhas do eléctrico e a calçada lisboeta foram escolhidos pois considero-os importantes para a identidade da nossa cidade, quanto ao elemento passagem de peões escolhi-o pela referência à relação do humano com a cidade e a sua azáfama.
Para integrar a ligação destes elementos com o factor humano escolhi fotos de pessoa individual, pares de pessoas e de grupos de 3 ou mais pessoas. Sendo assim entre os 3 temas e os 3 agrupamentos diferentes de pessoas o trabalho apresenta 6 temas distintos.
Estética
Para a captura da imagem, procurei obter fotogramas nos limites da visibilidade dos locais e objectos fotografados. Este limite entre o visível e o invisível que pretende transformar o identificável no anónimo, tem sido objecto de uma ampla reflexão por parte de filósofos como Husserl ou Maurice Merleau-Ponty, oude poetas como W. B. Yeats. As reflexões em torno dos limites do conhecimento, bem como as características que se estabelecem na relação entre sujeito e objecto, fazem parte das mais profundas inquietações que habitam o espírito humano.
A figura do ser humano que aparece nestas imagens é ao mesmo tempo identificável como um habitante da cidade e não identificável como um ser individual específico, diferente de todos os outros. Com esta perda de individualidade, que é ao mesmo tempo um ganho da característica de anonimato, pretendi realçar exactamente a periferia dos limites da visibilidade, a ténue linha entre luz e sombra, entre visível e invisível.
Nas entrelinhas das imagens são colocadas algumas frases, pequenas reflexões sobre os limites do visível e do invisível, em várias línguas como forma de espelhar o cosmopolitismo lisboeta.
Forma
Para a apresentação das imagens escolhi a forma de uma Sextina, um poema com 6 sextetos e um terceto.
A sextina possui regras muito específicas a serem utilizadas ao longo das várias estrofes, conseguindo uma métrica entre as 6 palavras finais nos versos de cada estrofe que é muito precisa e ritmada.
Escolhi esta forma para testar a passagem desse ritmo para as imagens associadas aos temas seleccionados. A forma adoptada para fazer a tradução entre as 6 palavras utilizadas da sextina e as imagens deste trabalho foi substituir cada verso por uma imagem, sendo as 6 palavras da sextina os seis temas das imagens.
A escolha de uma forma de poema para apresentação das imagens determina o modo como estas devem ser apresentadas, pois faz sentido que sejam vistas no seu todo. Assim, todo o poema deve ser visível como um conjunto indivisível.
O formato escolhido é uma linha com uma sequência de 6 imagens para cada sexteto, e uma linha final com a sequência de 3 imagens para o terceto. Pretendo, deste modo, conseguir que a métrica e o ritmo impostos pela sextina fiquem visíveis no conjunto das imagens apresentado.
Sextina
A sextina possui regras muito específicas a serem utilizadas ao longo das várias estrofes, conseguindo uma métrica entre as 6 palavras finais nos versos de cada estrofe que é muito precisa e ritmada.
As regras da métrica da sextina indicam que: 1) Nos sextetos cada verso termina com uma palavra, pela ordem 1,2,3,4,5,6. 2) Essas palavras têm sempre de ser utilizadas nos versos do sexteto seguinte na
ordem 6,1,5,2,4,3. 3) Para o terceto final cada verso utiliza duas das 6 palavras, uma a meio do verso
e outra no final, sempre pela ordem em que estas apareceram na primeira estrofe.
Da intuição de um corpo que se move através das sombras... lindo!! ;)
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