domingo, 30 de agosto de 2009

Último dia de férias


Este é o meu último dia de férias, não parece muito importante, podemos estar de férias muitas vezes, mas para mim é. É porque há anos que não tinha três semanas seguidas de vida não quotidiana, é porque há anos que não ía para a noite despreocupadamente sem hora nem limites para a bebida e para a diversão, é porque há anos que não tinha companhias tão interessantes para o fazer - excluíndo a Susaninha que tem estado cá sempre claro :). Foi um bom período, em três semanas cancelei alguns anos de cansaço e desilusão no meu trabalho, desilusão essa que veio por várias restruturações, aumentos na exigência de quantidade de trabalho e desinteresse da organização pelos nossos valores. Mas este passado já não interessa. O que interessa é o presente, e este vem já a seguir, no futuro próximo.

Este é o meu último dia de férias, não parece muito importante, podemos estar de férias muitas vezes, mas para mim é. É porque amanhã começo uma vida nova, um novo local de trabalho, novos desafios, novas responsabilidades e espero, novos prazeres, sim porque acredito que o trabalho nos pode e deve também dar prazer, sim porque não aceito quando me dizem que não pode ser assim e portanto procuro, procuro até encontrar. Para quem ainda não sabe, é verdade, amanhã mudo-me para a Av. Duque de Loulé, nº12. Vou trabalhar com Sistemas de Informação e com cartografia, aquilo que gosto.

Este é o meu último dia de férias, não parece muito importante, podemos estar de férias muitas vezes, mas para mim é. É porque amanhã inicia o Workshop de Fotografia para Teatro onde vamos dar cobertura ao MITO (Mostra Internacional de Teatro de Oeiras) que termina quase colado a um ano de estudo de fotografia na forma do curso de Fotografia Aplicada do MEF (Movimento de Expressão Fotográfica). Estudar Fotografia tem sido a minha construção, a minha liberdade, a minha alma. Agora começa finalmente a sério.

Este é o meu último dia de férias, não parece muito importante, mas é, mesmo!

Abraços e Beijinhos para os amigos

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Subúrbios


A group of men have tricked us.
We have moved to the suburbs.
Our labor and ambition builds it.
Their money finances it.
We work and we pay.
In the suburbs.

do filme "The Doll Underground", Eon McKai, 2008, XXX
http://thedollunderground.com (Link com vídeo, APENAS PARA MAIORES DE IDADE)

Fotografia: Dulce Surgy e Carlos Muralhas

terça-feira, 25 de agosto de 2009

A Sapiência das crianças


Atenção, atenção, o elemento social que falta na avaliação da inteligência infantil é favor baixar o regalo egomaníaco surrealista do capitalismo e olhar para os que, por acaso da vida ou por superior inteligência, não consideram a felicidade nada equivalente à tão exigida excelência...

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Alguns dias sinto-me imerso


Alguns dias sinto-me imerso,
imerso de luz e calor e riso e verão,
tudo acontece, o caminho está ali, visível,
está ali e leva-me a mais uma memória,
uma memória que me constrói e me completa.

Alguns dias sinto-me imerso,
imerso de sombras e dor e tristeza e inverno,
tudo é difícil, estou fora daqui, nada vejo,
estou fora daqui e faço mais um erro,
um erro que me ensina e me faz crescer.

Hoje...

Hoje mereço estar imerso de água... e ter muita imaginação.

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

domingo, 23 de agosto de 2009


Vi-te e desejei-te ao primeiro Olhar.

Os contornos...
Da história...
Únicos...

Mas fazem parte de um padrão
Repetido até mais não
No Tecido da Paixão

A proximidade...
Revela...
Distância...

E desfaz o Olhar
Faz asfixiar
E terminar


Vi-me e desejei-me para me afastar

Forografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion


sexta-feira, 21 de agosto de 2009


Preciso controlar o ser, a sede e o desejo, o ensejo de conseguir, partir, ir embora.

Ir, outro lugar, aquele em que não estou, aquele ao qual nunca fui, aquele onde não posso ir, agora, nunca, talvez.

Talvez, um dia faço uma loucura, maior ainda, enorme, sem limite, e chego lá, lá ao meu desejo.

Afinal, o meu desejo está tão perto... É ser o que quero, quando e onde, sempre e em todo o lugar.

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Árvores e Edifícios


Num dia de sol, passeando pela Av. 5 de Outubro e observando as árvores em flor.

Fotografia: Carlos Muralhas

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Dia Mundial da Fotografia


Estou atento
Estou porque quero ver
Porque o tempo passa, a luz reflete e a memória esquece

Estou atento
Estou porque quero capturar
Porque ela olha, o movimento apetece e o momento acontece

Estou atento
Estou porque quero guardar
o mundo

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

terça-feira, 18 de agosto de 2009


Há quem percorra o seu caminho sem se deixar levar pela pressão da
pressa dos outros

Há quem considere natural sentir o musgo a crescer-lhe nos pés

Há quem caminhe em direcção ao futuro sem perder a calma que herdou do passado

Mas a Maioria passa pela Vida
Em passo de Corrida
Para chegar Mais Longe
Fazer o Amanhã Hoje

E constroem a História
E controlam o Dia
E consumam a Vitória
Da Ignorância sobre a Sabedoria

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Férias


Fui para o norte...

Estive lá...

Já voltei para o sul...

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Periferias III

pouco tempo

pouco tempo

corre o tempo

espera tempo

estou atrasado

tenho que lá chegar

espera tempo

corre o tempo

pouco tempo

pouco tempo


Fotografia e Texto: Carlos Muralhas


Sabedoria


É importante saber entrar em cena, mas é mais importante saber sair.

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sensualidade bela



Foi uma blusa demasiado ousada para aquele jantar a dois. Ainda para mais, não tendo mais nada por baixo.

O olhar era invariavelmente atraído para uma única zona... para sair de lá em alvoroço, assim que se apercebia onde tinha pousado.

Até que, após diversos faux-pas visuais e alguns tropeções gramaticais, surgiu a Pergunta.

"Afinal, qual é a diferença entre essa blusa e não ter nada vestido?"

A Pergunta introduziu a Reflexão, até que esta teve que se retirar, sendo substituída pela Filosofia.

Foi daí que nasceu o Desafio.

"Despe-a! Um strip da cintura para cima!"

Foi um Desafio arriscado. Mas, naquela fase da garrafa de vinho, quem é que estava a ver se íamos longe de mais?

Mas o Desafio não ficou só, pois subitamente entrou a Contra-Proposta.

"OK! Mas só abres os olhos quando eu disser 'Abre'. E fecha-los quando eu disser 'Fecha'."

Sim... Os termos do Acordo até tinham a sua piada.

O início foi de olhos fechados. A sensação da mão a passar no ombro, um cheiro que fica quando a mão passa rente à face para pousar no outro ombro. As mãos sobre os olhos, descendo para a face, abrindo
novamente para os ombros.

Um afastamento. Os passos mais fortes no chão.

"Abre!"

Frente a frente... meneava as ancas, subindo e descendo lenta e deliberadamente... virou-se a três quartos e inverteu a rotação, inverteu novamente e...

"Fecha!"

A concentração nos passos. A aproximação. A deslocação para um dos lados.

Os passos apressados de um lado para o outro, o pé bate com força no chão, a direcção dos passos inverte-se.

"Abre!"

Rodopia. Os seios passam mesmo ali à frente dos olhos, num enquadramento como só o acaso consegue criar.

"Fecha!"

Prosseguem os passos apressados, nova pontuação com o bater do pé e afastamento, ao centro.

"Abre!"

Arranca uma sucessão de rodopios fascinantes! Quase se instala a tontura!

Os seios agitam-se com o movimento, como que desejando libertar-se da transparência que os envolve, que os sufoca.

A sua espera termina! Com três movimentos marcados, precisos, a blusa cai.

E, numa prova que a transparência por vezes ilude, pouso a mão sobre o coração. Esse, tenho sempre receio de o deixar desprotegido.

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

Utopia


Por instantes abstraí-me do mundo,

Imaginei um lugar onde seria feliz, onde não haveria pressa nem atrasados, posse nem possuidos, injustiça nem injustiçados...


Procuro esse lugar,

procuro ouvir a sua música... mas está silencioso,

procuro ver a sua arte... mas está escuro,

procuro tocar a sua plenitude... mas está proibido.


A História diz que mordaças e prisões nunca duram para sempre logo estou quase a encontrá-lo... mesmo quase.


Fotografia e Texto: Carlos Muralhas


terça-feira, 11 de agosto de 2009

O Legado


"Understanding is the real satisfaction
[It is] the only pleasure that is not followed by remorse"
Sócrates, 469399 a.C.

É sempre bom quando nos descobrem: BLOG nem porque não

Fotografia: Carlos Muralhas

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Évora I


Preso ao Passado...

Sim, ele não o nega.

Não por ter medo do Futuro. O Futuro não existe. Seria o mesmo que ter medo do Lobo Mau.

O seu problema é o Presente. Uma sucessão estonteante de momentos que passam tão depressa que mal os consegue captar. Todos em simultâneo. Todos a quererem ser o Presente.

O Presente afigura-se-lhe incompreensível. Não por ser dotado de uma complexidade transcendente, mas apenas porque, à força de querer ser Tudo, acaba por ser...

Nada.

Hoje, Tudo é efémero. Hoje, Tudo é relativo. Hoje, Tudo é superficial... porque, ao ritmo a que Tudo acontece, não tem tempo para ser mais...

Nada.

Apenas uma luz fugaz que não ilumina Nada apesar de deslumbrar com o brilho de Tudo.

O Passado, esse é sólido. É uma âncora presa firmemente à Realidade, espelho de um tempo em que o seu ritmo permitia que fosse gravada na pedra. Uma Realidade que tinha tempo para ser...

Tudo.

O Passado tornou-se simples porque não tentou ser Tudo. Foi apenas aquilo que teve tempo para ser. Teve momentos de emotividade luminosa, teve momentos desesperadamente sombrios. Mas cada momento foi o que tinha que ser, em toda a sua plenitude. Cada momento teve tempo para ser...

Tudo.

E ele? Vejo-o ali, pequeno, frágil, apoiado no Passado. Como quem segura o seu Ace of Spades...

E espera...

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

domingo, 9 de agosto de 2009

É importante sonhar


Acontece que o mundo
Não está cá para nos dar o que queremos
Mas sim para responder à nossa preserverança em perseguir o sonho

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

sábado, 8 de agosto de 2009

O gato Ideafix



Sabem uma coisa?

Estou há horas a pensar no seguinte: O rato roeu a rica roupa do Rei da Rússia.

E o gato? O gato goeu a guica goupa do Guei da Gússia.

Conclusão: É preciso um estilo de vida muito próprio para poder
dedicar horas a desenvolver este pensamento.

Adoro o meu dolce fare niente,
que me embala docemente
ao sabor da corrente
do que vai na minha mente.

Sim, esta também me levou vários dias de contemplação. Sou lento, mas
isso não me aborrece. Antes pelo contrário, dá-me um prazer imenso.

Bem, está na hora de uma das minhas sestas.

Qual? Não interessa. Qualquer hora é boa para uma das minhas sestas.

Bom trabalho para todos!

Ah... E não olhem com essa inveja toda para a minha vida. Foram vocês
que deram cabo da vossa.

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O Beco


E, de repente, o silêncio enche-me os sentidos. Subitamente, sinto-me um intruso... barulhento... desajeitado...

Pé ante pé, esforço-me por ser etéreo, na esperança de não espantar o espírito que se espelha neste espaço.

Sinto os olhos que me fitam. Alguns cerrados, outros despedaçados. Todos encerram memórias, por detrás da fachada que os sustenta, que ostenta as feridas que o Tempo já não deixou cicatrizar.

Velho? Certamente.

Decrépito? Talvez.

Morto? Não!

Ali está a Vida que se recusa a partir! A energia de uma ideia que se aproximou demasiado do Sol, mas que um dia renascerá das cinzas, como um ideal intemporal! Um temporal... a seu tempo...

Vivo, sim! Mas, acima de tudo, digno, perante as indignidades do Tempo.

E eu...?

Regresso à minha realidade... indigno.

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Periferias II

Apenas
quero voar
no espaço
desprendido
perdido...
para sempre.

Fotografia e Texto: Carlos Muralhas

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Á memória de Evgueni Zamiatine


Olhei durante uns momentos para ela, tal como fizeram todos os outros. Ela já não era um número; era somente uma criatura humana, existia apenas enquanto substância metafísica do insulto que acabava de ser cometido contra o Estado Único. Mas um simples movimento fez-me ver que conhecia aquele corpo dúctil como um chicote; os meus olhos, os meus lábios, as minhas mãos conheciam-na, tinha disso a firme certeza.


Adiantaram-se dois guardas, procurando cortar-lhe o passo. As trajectórias deles e dela iam cruzar-se na calçada vítrea, clara, espelhada.


O meu coração engoliu em seco, estacou e sem pensar se tal acto era permitido ou proibido, absurdo ou ajuizado, avancei para o local. Senti em cima de mim dezenas de olhos, esbugalhados de medo, mas isso deu uma força ainda mais desesperada ao ser bárbaro de mãos peludas que de mim se libertou e deu em correr cada vez mais rápido.


Tinha eu dado um ou dois passos em frente quando ela se voltou... À minha frente estava um corpo trémulo, semeado de sardas, com umas sobrancelhas ruivas...


Não era... Não, não era a E-!


A alegria desesperada abandonou-me. A vontade que me deu foi gritar: “Detenham-na!” ou “Apanhem-na!”, mas o que chegou aos meus ouvidos foi o murmúrio dos meus lábios. Entretanto, senti no ombro uma mão pesada.


(Texto retirado de Evgueni Zamiatine, Nós, Lisboa, Antígona, pp. 156)



O Romance "Nós" foi escrito em 1920, tendo sido publicado pela primeira vez em 1924, numa tradução inglesa, em Nova Iorque.


Nós constitui uma das primeiras distopias do Século XX, percursora de obras como Admirável Mundo Novo (1930), de Aldous Huxley, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (1948), de George Orwell e Fahrenheit 451, de Ray Bradbury. Têm em comum descreverem por antecipação a engenharia social que, apoiada no controlo do pensamento e na repressão da dissidência, garante a unidade totalitária.


Manuel Portela, Introdução à 2ª ed., Lisboa, Antigona, 2004


Fotografia: Carlos Muralhas