O olhar era invariavelmente atraído para uma única zona... para sair de lá em alvoroço, assim que se apercebia onde tinha pousado.
Até que, após diversos faux-pas visuais e alguns tropeções gramaticais, surgiu a Pergunta.
"Afinal, qual é a diferença entre essa blusa e não ter nada vestido?"
A Pergunta introduziu a Reflexão, até que esta teve que se retirar, sendo substituída pela Filosofia.
Foi daí que nasceu o Desafio.
"Despe-a! Um strip da cintura para cima!"
Foi um Desafio arriscado. Mas, naquela fase da garrafa de vinho, quem é que estava a ver se íamos longe de mais?
Mas o Desafio não ficou só, pois subitamente entrou a Contra-Proposta.
"OK! Mas só abres os olhos quando eu disser 'Abre'. E fecha-los quando eu disser 'Fecha'."
Sim... Os termos do Acordo até tinham a sua piada.
O início foi de olhos fechados. A sensação da mão a passar no ombro, um cheiro que fica quando a mão passa rente à face para pousar no outro ombro. As mãos sobre os olhos, descendo para a face, abrindo
novamente para os ombros.
Um afastamento. Os passos mais fortes no chão.
"Abre!"
Frente a frente... meneava as ancas, subindo e descendo lenta e deliberadamente... virou-se a três quartos e inverteu a rotação, inverteu novamente e...
"Fecha!"
A concentração nos passos. A aproximação. A deslocação para um dos lados.
Os passos apressados de um lado para o outro, o pé bate com força no chão, a direcção dos passos inverte-se.
"Abre!"
Rodopia. Os seios passam mesmo ali à frente dos olhos, num enquadramento como só o acaso consegue criar.
"Fecha!"
Prosseguem os passos apressados, nova pontuação com o bater do pé e afastamento, ao centro.
"Abre!"
Arranca uma sucessão de rodopios fascinantes! Quase se instala a tontura!
Os seios agitam-se com o movimento, como que desejando libertar-se da transparência que os envolve, que os sufoca.
A sua espera termina! Com três movimentos marcados, precisos, a blusa cai.
E, numa prova que a transparência por vezes ilude, pouso a mão sobre o coração. Esse, tenho sempre receio de o deixar desprotegido.
Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion
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