segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Évora I


Preso ao Passado...

Sim, ele não o nega.

Não por ter medo do Futuro. O Futuro não existe. Seria o mesmo que ter medo do Lobo Mau.

O seu problema é o Presente. Uma sucessão estonteante de momentos que passam tão depressa que mal os consegue captar. Todos em simultâneo. Todos a quererem ser o Presente.

O Presente afigura-se-lhe incompreensível. Não por ser dotado de uma complexidade transcendente, mas apenas porque, à força de querer ser Tudo, acaba por ser...

Nada.

Hoje, Tudo é efémero. Hoje, Tudo é relativo. Hoje, Tudo é superficial... porque, ao ritmo a que Tudo acontece, não tem tempo para ser mais...

Nada.

Apenas uma luz fugaz que não ilumina Nada apesar de deslumbrar com o brilho de Tudo.

O Passado, esse é sólido. É uma âncora presa firmemente à Realidade, espelho de um tempo em que o seu ritmo permitia que fosse gravada na pedra. Uma Realidade que tinha tempo para ser...

Tudo.

O Passado tornou-se simples porque não tentou ser Tudo. Foi apenas aquilo que teve tempo para ser. Teve momentos de emotividade luminosa, teve momentos desesperadamente sombrios. Mas cada momento foi o que tinha que ser, em toda a sua plenitude. Cada momento teve tempo para ser...

Tudo.

E ele? Vejo-o ali, pequeno, frágil, apoiado no Passado. Como quem segura o seu Ace of Spades...

E espera...

Fotografia: Carlos Muralhas - Texto: Llyrnion

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